terça-feira, 3 de agosto de 2010

Palmadas e Beliscões... Violência ou tentativa de educar?

Pela primeira vez, a molecada cruza os dedos e torce para um projeto de lei ser aprovado no Congresso Nacional. O fim das palmadas e beslicões pode estar próximo.

A ideia do governo federal é proibir pais, cuidadores e professores de darem castigos físicos em crianças. A meu ver, a proposta tenta impedir a violência doméstica.

Mas será que usaram os termos corretos? Palmada não é cintada, nem beliscão significa usar a vara para corrigir os filhos... Aliás, nunca recebi beliscão de adulto, só de crianças, e dói... Ainda tem a mordida, dói mais ainda...

Pesquisa feita pela Datafolha, no entanto, revela que a maioria dos brasileiros não apóia o projeto. Dos 10.905 entrevistados, 54% disseram ser contra e 36% se dizem favoráveis. O levantamento foi publicado no jornal A Folha de São Paulo.

Entrar na individualidade das famílias na hora de educar é algo complicado. Em geral, cada lar estabelece um padrão de como as coisas funcionam lá dentro. E tem de tudo, viu? Quando morei em Manaus, aos doze anos, tinha uma vizinha que toda vez que brigava com a filha a chamava de filha da ____. Eu ficava intrigada. Os berros eram tão exagerados que todos ouviam.


Por experiência própria sei que os pais se esforçam para dar a mesma educação aos filhos. Mas, dependendo do temperamento do herdeiro, não é qualquer conversa que resolve não. Às vezes, uma palmada pode sim sinalizar um gesto de amor.

Não sou a favor de nenhum tipo de violência contra menores, principalmente no calor da raiva. Muitos pais estressados e cansados das travessuras e malcriações dos filhos usam como primeira opção dar umas chineladas, no afã de sossegar os ”adoráveis pestinhas”. Outros, por sua vez, se omitem de corrigir simplesmente porque o cônjuge é passivo, e jamais seria capaz de levantar a voz à prole. Para não ficar como o “durão” da história prefere se deixar levar pelos caprichos do pequeno e, muitas vezes, passa vexame em público.

foto ilustrativa
Ainda não sou mãe. Mas tive a oportunidade de trabalhar como babá num certo período em que morei em Nova York. Cuidei de três irmãos na faixa etária de 5, 7 e 11 anos. O que mais me surpreendeu é ver o trabalho e a responsabilidade que é colocar crianças no mundo. Elas exigem muita atenção e não estão nem um pouco interessadas em todo o bem material que você pode oferecer a elas. No fundo, o que mais desejam é que os pais passem tempo com elas. E como é difícil no mundo atual parar e dedicar tempo aos filhos. O mais fácil é enchê-los de presentes, lotar a agenda deles de atividades e deixá-los em frente à TV para ter algumas horas de sossego.

Ao contrário de muitas mães, que precisam trabalhar o dia inteiro para ajudar no orçamento familiar, a mãe dessas crianças, que eu fui babá, não trabalhava, era muito rica. E mesmo assim, não conseguia dedicar tempo aos filhos. Não era capaz de levantar cedo para ajudá-los a ir à escola e, mesmo em meio às súplicas da filha, não se dispunha a acompanhar a pequena mocinha de sete anos em suas aulas de dança.

Para chamar atenção, essa linda garotinha, de olhos azuis, se tornava uma rebelde estudante na escola. Não respeitava os professores, tinha inveja das colegas e sempre arrumava um jeito da mãe ser chamada no colégio. Um dia, sozinha com o motorista, destravou a porta e fingiu que iria se jogar do carro.

Para aumentar o meu espanto, a mãe me chamou para ter uma conversa junto com a menina. Aos berros citou como exemplo a cantora Britney Spears e a atriz Lindsay Lohan: “Você quer ser como essas garotas? esbravejou a mãe... Lindas, ricas... mas não foram capazes de respeitar a lei. E hoje elas têm que prestar contas à polícia... E continuou... Da próxima vez que você tentar abrir a porta do carro, o motorista não vai ligar para mim, mas sim para a polícia.” Meus olhos imediatamente ficaram esbugalhados. E ouvi a menina chorando dizer: “Eu só queria que você me levasse à escola todos os dias.”

Infelizmente, alguns pais, ausentes, esquecem que amar e educar não exige tanto sacrifício. Passar tempo com os filhos e fazê-los se sentir amados é muito mais importante do que enchê-los de coisas caras e fúteis.

O projeto polêmico enviado pelo presidente Lula ao Congresso suscitou muitos questionamentos, com opiniões favoráveis e contras. Só por isso, já valeu. Com ou sem palmadas, as crianças precisam de limites... Afinal de contas, o mundo nem sempre estará sorrindo a elas... Se aprenderem desde cedo a ouvir um não na hora certa, vão estar muito mais aptas a lidar com as adversidades da vida e tirar boas lições dos fracassos. Os grandes vencedores podem perder muitas batalhas, mas adquirem força e habilidade para vencer a guerra.

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